quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Biblioteca Prof. Osni Régis



Quinze mil livros de bordas amareladas descansam tranquilos no número 1344 da Avenida Mauro Ramos, no centro de Florianópolis. Olhos apressados passam reto pela placa que sinaliza, logo depois da igreja evangélica nababesca, a existência de um pequeno achado: uma biblioteca quase-pública (mas sem público) que guarda o acervo de uma vida toda.

Quem sai do pandemônio do resto da cidade e entra nos fundos da casa que esconde a biblioteca sente um leve deslocamento no espaço e no tempo. Não parece Florianópolis, nem 2010. O sol das 15h passa pelas vidraças e bate nas prateleiras cheias de clássicos de direito, sociologia, filosofia, história, teoria literária e literatura. No quintal, uma bananeira exibe um cacho verde. Volta e meia, um bem-te-vi pousa na grama. Só o que remete ao mundo lá de fora são dois computadores parados num canto.

Vale a visita. Se não para pegar um livro (nem todos são emprestáveis), pelo menos para sentar, ler e aproveitar o ambiente agradável durante um tempo.

O charme do lugar começa pela sua história. O acervo pertenceu ao político, professor e apaixonado por leitura Osni Régis. Após assistir My fair lady, estrelado por Audrey Hepburn, ele resolveu construir na sua casa uma pequena-semi-réplica da biblioteca que aparece no filme. Depois que morreu, em 1991, a família decidiu abrir o espaço ao público e criou a Fundação Prof. Osni Régis, que banca a manutenção de tudo com recursos próprios.

Para quem estuda Direito, os muitos títulos na área representam o paraíso. Mas também há clássicos literários brasileiros e estrangeiros - franceses, latinos, gregos, uma prateleira toda de Agatha Christie e muitas raridades. Entre elas, a História da Literatura Ocidental, de Otto Maria Carpeaux, em sete volumes, uma pequena autobiografia de Ferreira Gullar, cartas eróticas de James Joyce para a mulher, as obras completas de Tomás de Aquino, Karl Marx e números de revistas pouco encontráveis por aí, como a francesa Les Temps Modernes, fundada por Jean-Paul Sartre.

Fazer a manutenção de tudo isso já é complicado o bastante, por isso todas as ofertas de doações de livros são delicadamente negadas. O acervo permanece com 15 mil volumes há quase vinte anos.

Livro é para ser lido, deixá-lo parado na estante não é o objetivo, diz Isabel Régis, filha de Osni Régis e presidente do conselho curador da Fundação. Ela lamenta que a biblioteca tenha tão poucos visitantes. Quando vem alguém é mais pra pesquisar na área de literatura e direito. Ou então as pessoas entram, olham o lugar e vão embora.

Quem fica lá todos os dias cercada pelos maiores clássicos mundiais é Maria, que recebe os passantes, cuida dos livros, deixa o lugar sempre impecável e fica de olho no amadurecer dos cachos de bananas. São mais gostosas que qualquer uma que se vende no supermercado, saliva.

Ler um pouco, levantar, ir até o gramadinho lá fora, pegar uma banana, comer, escutar um passarinho. Por que mesmo ninguém nota aquela placa na Mauro Ramos?

Quem quiser aparecer por lá pra checar se as bananas já maduraram, anote aí:
Biblioteca Prof. Osni Régis, nº 1344, Avenida Mauro Ramos, Centro, Florianópolis
Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h
Mais informações: (48) 3223 4833
http://www.revistanaipe.com/naipe-na-rua/17-naipe-na-rua/129-universo-paralelo

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