quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Quando os anjos choram?



artigo sobre Código Florestal, Chico Mendes e Dia da Economia Solidária Publicado em 15/12/2010 por ceciliabsousa
Fonte: http://aasombradaarvore.wordpress.com/2010/12/15/quando-os-anjos-choram/


Segundo os mexicanos do Grupo Maná, os anjos choram quando uma árvore morre, quando uma estrela se apaga. Mas eu acho que, quando uma criança é abusada em sua fragilidade, quando uma mulher é agredida ou desrespeitada, sobretudo pelo companheiro com quem dorme todos os dias, e quando um homem negro, uma mulher negra, um cidadão pobre, ou qualquer outro ser humano é ofendido em sua dignidade, os anjos também choram, e muito.

Porém, o grupo de mexicanos tem toda a razão quando fala da tristeza que os anjos sentem quando a natureza é ameaçada. E os anjos devem estar muito apreensivos hoje, pois um grande grupo de parlamentares, alguns representantes da bancada ruralista, e outros que se dizem companheiros de “esquerda”, acenam aprovar mudanças absolutamente retrógradas e destrutivas no código florestal brasileiro, um dos principais instrumentos de proteção ambiental no Brasil.

Entre as sérias mudanças que o código florestal pode sofrer, está a redução das Áreas de Proteção Permanente de rios (matas ciliares) de até cinco metros de largura, que passariam de 30 para 15 metros, e a suspensão das penalidades para produtores rurais que cometeram crimes ambientais até julho de 2008 (anistia geral aos desmatadores).

O Ministério Público já manifestou repúdio às mudanças no código florestal. Centenas de organizações também se manifestam, e alguns parlamentares se mobilizam, como o aguerrido Ivan Valente (PSOL-SP), que tenta de toda forma barrar o projeto, promover o debate, convencer os parlamentares e esclarecer a população. Mas, mesmo assim, o projeto pode ir à votação hoje e corre um grande risco de ser aprovado no apagar das luzes do ano de 2010.

E, que contradição! No dia de hoje, 15 de dezembro, 66 anos atrás, nascia Chico Mendes, seringueiro, líder sindical e defensor do meio ambiente, principalmente da Amazônia. Francisco Alves Mendes Filho, mais um Chico brasileiro, foi assassinado friamente quando tinha 44 anos, por conta da sua luta intensa em defesa da Amazônia e de seu povo. Ele anunciou que seria morto, buscou proteção, mas, nem as autoridades competentes, nem a imprensa deram atenção. Morreu em 1988.

Nesta madrugada, sem conseguir esconder sua apreensão, os anjos choraram, e Brasília amanheceu chuvosa. Eles estão com medo do que pode acontecer com o código florestal brasileiro. Exatamente hoje, em que se comemora o Dia Nacional da Economia Solidária, que consiste num jeito de pensar, produzir e consumir que visa o “desenvolvimento sustentável, socialmente justo e voltado para a satisfação racional das necessidades de todas as pessoas”. (A data foi escolhida em homenagem ao aniversário de Chico Mendes, um dos precursores da economia solidária no Brasil).

Preocupados, os anjos choram e o canto dos pássaros guarda uma angústia apertada, uma sensação de impotência diante do que pode acontecer… Nessa manhã, muitos deles cantaram às janelas dos quartos das deputadas e deputados brasileiros, tentando alertá-los para o grande perigo por que passam as florestas brasileiras, as matas que estão às margens dos rios e o clima da Terra onde viverão seus sucessores. Tomara que tenham sido ouvidos.

E, como não poderia ser diferente, partilho com vocês a canção “Cuando los ángeles lloran” (Quando os anjos choram), do grupo mexicano Maná. Fala de Chico Mendes, da omissão das autoridades e começa com um lindo solo de violão… Não preciso falar muito da canção, ela já diz tudo. Apenas ouçam…

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=20YDYHNyZl4

Cecília Bizerra Sousa, 15 de dezembro de 2010

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