segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A ARTE DA POESIA por Lindolf Bell

A poesia é o instrumento mais generoso para eliminar a solidão, a indiferença, o desencanto, o cinismo e a discri- minação.
A solidão vale como espaço para refletir em profundidade sobre nosso destino comum e a ausência de solidariedade que deseqüilibra o sistema social, acentua privilégios e exclusões.
Se o poema, muitas vezes, amadurece sem terras, em solidão, sua existência (resistência) se justifica para lembrar que o ser humano mais uma vez não é ilha, mas partilha.

O poeta Lindolf Bell teve a influência do homem comum, principalmente da sua maneira de caminhar em direção a algum lugar ou lugar nenhum. As expressões de surpresa, contentamento, dor ou exultação contagiavam também o poeta, o qual falava para pessoas anônimas coisas profundas de um modo simples. Com esta necessi-dade messiânica, surgiram alternativas para uma maior divulgação da arte na sociedade.

Libertando sua tensão, exigia do leitor ou ouvinte tanto a renúncia à indolência mental / emocional, quanto às adiposidades mentais, aos conceitos e preconceitos, fazendo com que o universo, o homem e a beleza saissem do local onde se encontravam encalhados. Propunha um universo visto de novos ângulos, com imagens imantadas de inquietação, descobertas e construídas fora dos esquemas cotidianos das palavras, da emoção, da razão, da sensibilidade. Buscava adquirir foros de existência real, ou seja, sem lugar nem tempos para a poesia.
Feito o poema, o poeta leva-o. É forma de contribuir à vida e à cultura. Seu canto e seu grito.

A influência dessa visão idílica da vida é visível nos escritos do poeta, fluindo como as nascentes dos sempre evocados rios Itajaí e Benedito (tratava em suas falas e memoráveis declamações públicas). Não raro via-se o poeta apresentando-se aos amigos, em sua residência na Rua Quintino Boicaiúva em Timbó (Casa do Poeta). O poeta sentia-se assim, ligado à sua terra como um rebento ou um fruto que nasce para enobrecer o solo que surgiu.

Para aproximar a poesia do coração, surgiu a idéia de inscrever poemas em camisetas. Longe de apenas fazer propaganda de um modo de ser, o poema desta forma sintetizava os desejos de uma geração que desconfiava de quem tinha mais de trinta anos. Portar uma camiseta-poema era também uma forma silenciosa e eloqüente de contestar, de expressar o descontentamento com um mundo cheio de desamor. Em decorrência do sucesso alcançado, surgiram outras propostas, fazendo com que a poesia passasse a ocupar cartazes, posters, outdoors .

Embalado pelos ventos da mudança, o poema contagiou ainda mais os poetas, exigindo assim situações alternativas para sua visualização. Em Blumenau, no ano de 1982, foi criada a Praça do Poema, que reuniu poetas catarinenses, todos com trabalhos publicados.
Após transcrever em pedra os sentimentos de alguns poetas, a Praça do Poema apontou o caminho para obras semelhantes Brasil afora. Esta praça também representou o encerramento de mais um dos ciclos retóricos gerados pela Catequese Poética, fazendo com que o poema tocasse e se corporificasse na alma através de megalitos poéticos. Hoje é um marco que lembra às almas distraídas e deixa a semente dos poemas soltos ao vento. “O poema sai do estado de tensão e passa a viver, quando cria um estado de comunicação”.

Lindolf Bell nasceu em Timbó (SC) no dia 02 de novembro de 1938. Em 1944, sua mãe iniciou sua alfabetização em alemão. De 1945 a 1952 estudou em sua terra natal Em 1953, matriculou-se no Curso Técnico em Contabilidade de Blumenau, concluído em 1955. Voltou a Timbó. Em 1958, serviu à Polícia do Exército. Em 1959, no Rio de Janeiro (RJ), estudou Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, curso que não completou. No ano seguinte, retorna a Timbó. Em 1962, iniciou seus estudos no Curso de Dramaturgia na Escola de Arte Dramática de São Paulo, no qual se formou em 1964.

Publicou seu primeiro livro de poesia, Os Póstumos e as Profecias, em 1962. Participou de diversos eventos: na Expressão de Novos Poetas, com poemas-murais, na biblioteca paulistana Mário de Andrade; do Movimento da Catequese Poética; foi autor do roteiro cinematográfico A Deriva para o filme experimental de Juan Seringo; declamou poemas no Show Contra, no Teatro Ruth Escobar, São Paulo SP. Em 1968, viajou para os Estados Unidos, onde integrou o grupo brasileiro no International Writing Program, na Universidade de Iowa. No seu retorno, passou a viver em Blumenau, onde foi professor de História da Arte na Fundação Universidade Regional. Participou na I Pré-Bienal de São Paulo, em 1970, com poemas-objetos.

O autor faleceu no dia 10 de dezembro de 1998, na cidade de Blumenau (SC).

OBRAS:
Os Póstumos e as Profecias. São Paulo: Massao Ohno, 1962.

Os Ciclos. São Paulo: Massao Ohno, 1964

Convocação. São Paulo: Brasil, 1965.

Curta Primavera. São Paulo: Brusco, 1966.

Tarefa. São Paulo: Papyrus, 1966.

Antologia Poética de Lindolf Bell. São Paulo: União, 1967.

Antologia da Catequese Poética. T. Paulista. São Paulo, 1968.

As Annamárias. São Paulo: Massao Ohno, 1971.

Incorporação. São Paulo: Quiron, 1974.

As Vivências Elementares. São Paulo: Massao Ohno/Roswitha Kempf, 1980.

O Código das Águas. São Paulo: Global, 1984.

Setenário. Florianópolis: Sanfona, 1985.

Texto e Imagem. Oficinas de Arte. Florianópolis, 1987.

Pré-textos para um fio de esperança. BADESC. Florianópolis, 1994.

Iconographia. Editora Paralelo: 1993.

Requiem. Oficinas de Arte. Florianópolis, 1994.

Obras traduzidas:

Italiano:
In Poesia de Brasile d’Oggi (trav. Salvatore d’Anna) editrice i.l.a. Palma, 1968.

Belga:
In Revista “Nieeuw Vlamams Tijdschrift” (trad. Freddy de Vree), Antuérpia, 1969.

Inglês:
In Revista “Licor Store”, Iowa USA, 1969 in Brazilian Poets XX Century (trad. Elizabeth Bishop); e in Antologia da Poesia Contemporânea Brasileira (trad. José Neinstein), 1973.

Espanhol:
In Tiempo de Poesia Brasileña (trad. Adovaldo Fernandes Sampaio) Buenos Aires, Ediciones de la Flor, 1974.

Angola:
Poemas editados na revista MÁKUA nº 4.

Prêmios recebidos:
Prêmio Governador do Estado, em 1983, São Paulo.

Prêmio de Poesia, pelo livro Código das Águas, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1984, São Paulo.
(Dados obtidos no site do autor e no do Itaú Cultural)

O poema acima foi extraído do livro “Incorporação: doze anos de poesia, 1962/1973”, Editora Quiron - São Paulo: Quíron, 1974.

FONTE - http://www.lindolfbell.com.br
FOTO http://achamarteblogspotcom.blogspot.com/2008_10_01_archive.html

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